quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Miserável homem que sou!

"Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7:24)

Todos nós estamos sempre oscilando entre alguma grandeza e alguma vileza. Quando encontramos qualquer coisa sublime em alguém, logo encontramos também uma parte desprezível e vulgar. Penso que isso é o que mantém nossa sanidade mental. Pois há em nós uma constante lembrança da perfeição, mas nada além de uma fraca lembrança, que traz consigo uma angustiante e incurável frustração: Ao mesmo tempo em que a vislumbramos percebemos também que ela não é nossa e que não podemos retê-la. Todo brilho humano é como o brilho da lua. Todo brilho humano é um brilho triste.

A glória não encontra morada em nós. Nem sequer a conhecemos, pois nenhum de nós a viu por tempo suficiente. Em contrapartida, convivemos intimamente com a fraqueza, a miséria, a decadência. Mas o que nos faz sofrer é também a nossa salvação. A transitória e intermitente presença da perfeição aliada à ultrajante miséria humana é o que cria em nós o desejo dos lúcidos. Para os que ignoram a primeira ou negam a segunda, não há esperança.

O desejo dos lúcidos é a cura. Alguns se aventuram em longas expedições e investem seus poucos anos de vida nesta procura louvável. Os que retornam, trazem suas teorias como troféus, esboçando grandes sorrisos e verdadeira crença. Não vivem o suficiente para prová-las; ninguém vive. Uma geração após a outra experimenta o dilema. Usar o remédio oferecido pelos antepassados ou entregar sua vida pela possibilidade de encontrar um novo?

É uma escolha um tanto deprimente. Mas todo sábio precisa optar por um dos famosos caminhos, e, seja qual for sua escolha, vários o seguirão. Confesso que vejo esses sábios como verdadeiros loucos. Os dois caminhos me parecem prenúncios da morte. Da minha morte. Ademais, consciente da minha própria impotência, não me anima a ideia de confiar minha existência a um semelhante meu.

O evangelho é a boa nova de uma terra distante. Só confio em Cristo porque seu reino não é deste mundo. Só ponho minha esperança nele porque descobri que ele não é um de nós. Sabendo que não conhecemos a cura, Jesus Cristo tomou o caminho inverso ao de nossos sábios. O remédio veio até nós. Mas o remédio veio para os doentes. E não apenas isso, o remédio veio para doentes desesperançados como eu. Aqueles que não se arriscam a ir e não se arriscam a ficar. O remédio veio para os que descreem dos homens.

Precisamos abrir os olhos para a feiúra que nos cerca; colocar o coração na “casa do luto”; considerar a morte e o fim como quem toma um antídoto contra o engano. De fato não temos muito tempo. Mas também precisamos contemplar a inegável amostra de glória que, assim como a estrela que anunciou o nascimento do Messias, brilha, e insiste em nos indicar o caminho.